sexta-feira, janeiro 21, 2005

"A Estrela em que Caminhas
Gosto de te ouvir quando estou triste. Fazes-me rir. Iluminas-me os parêntisis das bochechas com duas ou três piadas sacadas do bolso e faço de conta que o tempo é aqui e a vida é aqui e nada mais existe senão nós os dois sentados numa esplanada na praia a autoconvencermo-nos de que ainda somos importantes um para o outro.
Oiço-te estralejar os dentes a imitares políticos corruptos, apresentadores, apresentadores de televisão e jogadores de futebol a falarem na terceira pessoa, e esqueço-me dos turistas encarneirados berrando à nossa volta, apreciadores de vinho tinto e receitas de bacalhau, clamando por imperiais sem espuma à medida que vislumbram as coxas bronzeadas das nativas debaixo de piropos ordinários em idiomas que não percebo.
Percebes se estou triste. Não me fazes perguntas, mas percebes se estou triste. Dizes então, essa cara é o quê, eu encolho os ombros e tu ris-te sozinho, e sabes perfeitamente o efeito que os sorrisos têm em mim, como se me conhecesses o valor dos dentes, das gengivas, do recorte dos lábios, do baton para o cieiro que puxo amiúde da mala a tentar disfarçar o embaraço quando te pões com a conversa usual acerca do que poderia ter acontecido connosco se eu não tivesse conhecido o Vasco naquela noite em casa da Lena(...)" Não conheço a autoria.