quarta-feira, janeiro 04, 2006

"«Entre todas as criaturas que está a ver em volta de mim tão dóceis, tão inocentes, tão meigas, não há uma só, talvez, de quem eu não possa vir a fazer uma verdadeira fera; estranha metamorfose, para a qual se está tanto mais preparada quanto mais nova se dá entrada numa cela e quanto menos se conhece a vida social: surpreende-a o que lhe digo? Deus permita que nunca venha a experimentar-lhe o acerto, Santa Susana; a melhor religiosa é a que traz para o claustro qualquer grande falha a expiar.»"
Diderot, em "A Religiosa"
"Desgostaram-me de quase todos os meios de pôr cobro à vida, porque me convenci de que, em vez de se oporem a essa ideia, a favoreciam. Não gostamos que nos empurrem para fora do mundo e é possível que eu já cá não estivesse, se elas houvessem tentado impedi-lo. Quando acabamos com a vida, talvez procuremos desesperar os outros, mas se julgamos dar-lhes satisfação com isso fazemos o contrário; são coisas muito subtis que se passam dentro de nós." ... "Realmente, só vivia porque elas me desejavam a morte.".
Diderot, em "A Religiosa"

terça-feira, setembro 06, 2005

"Being prime minister is a lonely job. In sense, it ought to be: you cannot lead from the crowd. But with Denis there I was never alone. What a man. What a husband. What a friend."
Margaret Thatcher, in "The Downing Street Years".

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

"A verdadeira bondade humana, em toda a sua pureza e liberdade, mostra-se apenas quando o seu receptor não tem qualquer poder. O verdadeiro teste moral da humanidade, o seu fundamental teste [...], consiste na sua atitude em relação àqueles que estão à sua mercê: os animais. E, a este respeito, a humanidade sofreu um fundamental desastre, um desastre tão fundamental que todos os outros [desastres] decorrem dele." Milan Kundera, em "A Insustentável Leveza do Ser"

segunda-feira, janeiro 31, 2005

"A biblioteca é um silêncio cheio de vozes que se libertam e nos envolvem sempre que abrimos as páginas de um livro."

sexta-feira, janeiro 28, 2005

"Penso em ti, sonho contigo, invoco-te quando mais preciso de ti. É tudo o que posso fazer, mas para mim não é o suficiente. Nunca será o suficiente, eu sei isso, mas que mais me resta fazer? Se aqui estivesses, dir-me-ias, mas até isso me roubaram. Tu sabias sempre as palavras certas para apaziguar a dor que sentia. Tu sempre soubeste como fazer para que eu me sentisse bem por dentro.
É possível que saibas como eu me sinto sem ti? Quando sonho, gosto de pensar que sim. Antes de nos termos encontrado, atravessava a vida sentido, sem razão. Sei que, de alguma maneira, todos os passos que dei desde o momento em que comecei a andar eram passos dirigidos ao teu encontro. Estávamos destinados a encontrarmo-nos.
Mas agora, sozinho na minha casa, comecei a perceber que o destino pode magoar uma pessoa tanto quanto a pode abençoar, e dou por mim a perguntar-me porque razão - de todas as pessoas do mundo inteiro que alguma vez poderia ter amado - tinha de me apaixonar por alguém que foi levada para longe." Nicholas Sparks, em "A Palavras Que Nunca Te Direi"

"Ficamos sentados em silêncio a observar o mundo à nossa volta. Levou-nos uma vida a aprender isto. Parece que os velhos são capazes de ficar sentados um ao lado do outro sem dizerem nada e ainda assim satisfeitos. Os jovens, activos e impacientes, têm sempre sempre que quebrar o silêncio. É um desperdício, porque o silêncio é puro. O silêncio é sagrado. Une as pessoas porque só os que se dão bem uns com os outros se podem sentar juntos sem falar. É este o paradoxo." Nicholas Sparks, em "O Diário da Nossa Paixão"

sexta-feira, janeiro 21, 2005

"A Estrela em que Caminhas
Gosto de te ouvir quando estou triste. Fazes-me rir. Iluminas-me os parêntisis das bochechas com duas ou três piadas sacadas do bolso e faço de conta que o tempo é aqui e a vida é aqui e nada mais existe senão nós os dois sentados numa esplanada na praia a autoconvencermo-nos de que ainda somos importantes um para o outro.
Oiço-te estralejar os dentes a imitares políticos corruptos, apresentadores, apresentadores de televisão e jogadores de futebol a falarem na terceira pessoa, e esqueço-me dos turistas encarneirados berrando à nossa volta, apreciadores de vinho tinto e receitas de bacalhau, clamando por imperiais sem espuma à medida que vislumbram as coxas bronzeadas das nativas debaixo de piropos ordinários em idiomas que não percebo.
Percebes se estou triste. Não me fazes perguntas, mas percebes se estou triste. Dizes então, essa cara é o quê, eu encolho os ombros e tu ris-te sozinho, e sabes perfeitamente o efeito que os sorrisos têm em mim, como se me conhecesses o valor dos dentes, das gengivas, do recorte dos lábios, do baton para o cieiro que puxo amiúde da mala a tentar disfarçar o embaraço quando te pões com a conversa usual acerca do que poderia ter acontecido connosco se eu não tivesse conhecido o Vasco naquela noite em casa da Lena(...)" Não conheço a autoria.

quinta-feira, dezembro 30, 2004

"Quando ficaram a sós, permaneceram em silêncio, saboreando a ausência do elemento sobrante e não sabendo bem como começar a aproveitar essa tão esperada intimidade a dois." Miguel Sousa Tavares, no Equador

terça-feira, dezembro 07, 2004

"Mas Matilde acabara por pesar também muito nessa decisão, ou nessa não decisão, e isso era a parte menos nobre das coisas. Perante a sua própria consciência, Luís Bernardo reconhecia friamente que S. Tomé lhe dava a possibilidade de fugir dignamente de Matilde. Sim, porque ele tinha querido fugir dela e não tinha outra forma de o fazer decentemente sem ser aquela. Como todos os sedutores por ocupação, o que o atraía era o jogo da aproximação, a irresistível tentação do objecto impossível, aquele roçar de todos os perigos, aquele arrepio do escândalo e do desejo conjugados, o triunfo final da sedução, os despojos da conquista a seus pés - as roupas espalhadas pelo chão, uma mulher nua, casada, de outro homem, entregue nos seus braços, gemendo de prazer e de terror na descoberta dos limites inexplorados da sua própria sexualidade. Mas depois disso, depois de deixar naquela noite o quarto de Matilde e o hotel na manhã seguinte, restara-lhe, como sempre, apenas um orgulho de caçador satisfeito e um desejo imperioso de se afastar para longe, tal qual um salteador que se quer afastar rapidamente da casa assaltada, para não ser desmascarado e denunciado. Na noite seguinte ele voltara ainda ao Hotel Bragança, para encontrar-se outra vez com Matilde. Tinham usado as mesmas cautelas, do mesmo estratagema, tinham-se abraçado com a mesma paixão da véspera, Matilde tinha-se-lhe entregue ainda mais intensa e livremente, despida de parte dos seus terrores iniciais, e ele tinha-a amado e demorado nela horas a fio, sabiamente, sem pressa, desfrutando por inteiro daquela noite. Mas, no seu íntimo, Luís Bernardo pressentia já que aquela era, provavelmente, a última noite."
Miguel Sousa Tavares, no Equador